domingo, 8 de fevereiro de 2009

Frei Ludugero contra a mulé que não queria ir pro Céu

Vivia em certa cidade
Faceira des que amanhecia
Aruam, a mulé vaidade
Trabalhando noite e dia
De folga era só felicidade
E na firma ela arrepia

Entrava no cabelerero
Feiúra era o que mais temia
Passava longe do Mostero
Com reza nada queria
Bebê era desejo martrero
Que mais a ela servia

Fumar era seu esporte
O pagode sua religião
Dançar era o seu mote
Xumbregar a fascinação
Pros amigos era a sorte
Pro marido preocupação

Longe da balada
Na responsabilidade
A cabeça atarantada
Pensava prosmiscuidade
A Mulé abestaiada
Falava caduquidade

Quando a morte me levá
Pro Céu quero ir não
Meus amigos num vão lá
Lá num tem nenhum tesão
Bebê, fumá, trepá
Posso lá fazê não

Que graça tem um lugá
Que só anjinho se vê
Eles vão pra lá e pra cá
Com harpinha de doer
Um samba que é bom levá
No Céu nunca vou tê

Tubinha moleque crente
Na faxina trabaiou
Ouvindo a indecente
De horror logo ficou
Pro mostero de repente
Correu e pro frei falou

Frei Ludugero de Saldanha
Grande home de oração
Ao ouvir aquela manha
Com Tubinha na falação
A aflição foi tamanha
Que prostou-se de aversão

O frei era destemido
Logo se recuperou
Pegou na Bíblia sofrido
Do crucifixo se apoderou
Por Tubinha foi conduzido
A alma que pecaminou

Chegando ao local indicado
Ludugero logo parou
É aqui que mortificado
Com a coisa ruim se abalou
Aruam ainda dava recado
Que o frei num gostou

Apontada por Tubinha
A faceira deu um jeito
De falar a ladainha
Pro frei sem arrespeito
Pois do Céu ainda tinha
O mesmo triste conceito

O frei logo elevou
A cruz do seu peito
Pra faceira ele apontou
A catequese e o preceito
Por horas ele falou
Mas a alma não tinha jeito

Quanto mais o frei falasse
A danada mais sorria
E do frei só caçoasse
Céu e inferno fugiria
Quando a morte apontasse
Purpurina ela seria

Diante daquela artimanha
O frei num teve jeito
Exorcismo era a façanha
Pra mulé ficar direito
E acabar com a sanha
De tratar Céu com desrespeito


Frei ludugero rezou
Pros santos ajudá
A expulsão começou
Era diabo a se peidá
328 o povo contou
Desse bicho a voá

Depois da limpeza diabólica
Aruam tava retumbante
Parecia em coma alcoólica
Com o fato alucinante
De tirar toda a cólica
Dos demos esfuziantes

O frei vendo ela
Naquela situação
Pegou a mão dela
Vendo logo a feição
Duma vibração nela
Veio inteiro o cramulhão

Um coisa-ruim tinha sobrado
Na mulé da vaidade
E no frei todo assombrado
Uma rasteira de verdade
Acudiu o coitado
A mulé com liberdade

Vem cá sua danada
O Céu é que num te quer
E depois desta encochada
Na gandaia como qualquer
Vou viver minha jornada
Como home que te quer.

Um comentário:

Mônica Melo disse...

Adorei é muito divertido o texto, Fernandinho!
Beijoss